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Um estudo cientifico publicado na revista Nature – «Ketamine and rapid antidepressant action: new treatments and novel synaptic signaling mechanisms» – focado na neuropsicofarmacologia – ramo da ciência que estuda os efeitos dos fármacos no sistema nervoso e no comportamento, especialmente no tratamento de transtornos psiquiátricos e neurológicos – explora a forma como os psicadélicos atuam no cérebro e os seus efeitos antidepressivos.

Nova Era no Tratamento da Depressão: Descobertas Revolucionárias Sobre Mecanismos Antidepressivos

A medicina psiquiátrica está a viver um momento de transformação com a chegada de novos tratamentos inovadores para a depressão. Depois de décadas de dependência dos antidepressivos tradicionais, como os inibidores da recaptação de serotonina, surgem agora abordagens completamente diferentes – e muito mais rápidas, segundo os estudos científicos que têm sido levados a cabo nos últimos anos.

A aprovação da esketamina (Spravato) e da brexanolona (Zulresso) em 2019 abriu caminho para substâncias como a psilocibina e o MDMA, que poderão ser os próximos a receber aprovação regulamentar. Já a Ketamina (ou cetamina) é a única substância aprovada em termos regulamentares para indicações aprovadas com um perfil de segurança demonstrado e reconhecido pela OMS ao incluir a substância na sua Lista de Medicamentos Essenciais, sendo usada off-label para tratamento de depressões resistentes desde os anos 90.

A grande mudança? Em vez de atuar sobre os neurotransmissores “lentos” como a serotonina e a noradrenalina, os novos tratamentos focam-se no glutamato – um dos principais neurotransmissores do sistema nervoso central, responsável pela comunicação rápida entre neurónios e com funções fundamentais como a aprendizagem, a memória, a plasticidade sináptica e até a regulação do humor.

Durante décadas, os antidepressivos disponíveis baseavam-se no modelo monoaminérgico, que se centravam nos neurotransmissores (como a serotonina e a noradrenalina). No entanto, a eficácia limitada dessas terapias tornou evidente a necessidade de novas abordagens. O estudo mais recente indica que a ketamina, um antagonista do recetor NMDA, trouxe um avanço significativo na compreensão dos mecanismos neurobiológicos da depressão.

A ketamina, um anestésico que começou a ser estudado para a depressão resistente e para o stress pós-traumático, mostrou ter efeitos surpreendentes, proporcionando alívio quase imediato dos sintomas, mesmo em pessoas que não respondem aos tratamentos convencionais.

Os investigadores descobriram que a ketamina desencadeia uma cascata de reações no cérebro, estimulando o crescimento de novas conexões neuronais e ativando mecanismos essenciais para o equilíbrio emocional.

Além disso, há indícios de que os seus metabolitos e até o próprio sistema imunitário desempenham um papel crucial nos seus efeitos antidepressivos.

Metabolitos da ketamina e seu papel na depressão

Os metabolitos são substâncias resultantes do metabolismo de uma substância no nosso organismo. Quando um fármaco, como a ketamina, é administrado, passa por processos de transformação química no nosso corpo, como no fígado e noutros orgãos, originando metabolitos que podem ter efeitos próprios no corpo.

No caso da ketamina, alguns dos seus metabolitos têm demonstrado atividade antidepressiva independente, o que significa que o seu efeito pode não se limitar apenas à ação da substância original. Um exemplo importante é o HNK (hidroxinorcetamina), um metabolito que parece contribuir para os efeitos terapêuticos da ketamina sem causar dissociação – um dos efeitos secundários do fármaco original.

Estes achados abriram novas linhas de investigação para o desenvolvimento de tratamentos mais seguros e eficazes, explorando a ação dos metabolitos para obter os benefícios antidepressivos da ketamina sem os seus efeitos adversos.

A investigação continua a evoluir, focada no desenvolvimento de terapias mais eficazes, com menos efeitos secundários e de ação mais rápida. A chave da revolução da saúde mental e dos seus tratamento está na forma como o nosso cérebro comunica.

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