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Autora: Caroline Ribeiro
Diário de Notícias, 6 de Novembro de 2024

Referência internacional, a investigadora britânica Celia Morgan está em Lisboa para a 2.ª Conferência Científica sobre Psicoterapia Assistida por Cetamina. Fala ao DN sobre avanços no uso da substância. «É animador poder oferecer algo novo.»

Uma experiência psicadélica pode ajudar um toxicodependente no tratamento para se livrar do vício? No caso do alcoolismo, estudos científicos atuais dizem que sim. A substância neste caso é a cetamina [ou ketamina], um fármaco utilizado como anestésico hospitalar, mas que conquistou as ruas mundo fora pelo seu potencial «alucinogénio».

Em Lisboa, realiza-se esta quarta-feira (6) uma conferência focada no tema, no auditório da PLMJ Advogados e com emissão em direto pelo canal no YouTube da The Clinic of Change, promotora deste evento que apresenta Celia Morgan, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, como uma das oradoras em destaque.

Quando falamos em cetamina, pensamos na droga em termos de adição, não de tratamento. O que já se sabe sobre o seu uso em transtornos mentais?

A cetamina é uma droga recreativa e há pessoas que desenvolvem problemas com ela, mas usamo-la de modo completamente diferente, enquanto tratamento para problemas mentais e de toxicodependência. O nosso estudo trata pessoas que abusam do álcool. Elas recebem três doses, integradas numa terapia desenhada para combater a adição. Achamos que a droga age como um catalisador para os efeitos da terapia.

Em Portugal, já se utiliza a escetamina em tratamento de depressões persistentes. Qual é a diferença?

A cetamina é uma molécula com duas imagens em espelho. A empresa farmacêutica colocou uma delas, a escetamina, numa fórmula para aplicação intranasal. Pessoas que falharam noutros tratamentos contra a depressão, que estão severamente doentes, podem receber a dose, são jatos intranasais. Não há nenhuma psicoterapia envolvida, é apenas a droga. Eu participei em algumas investigações, mas todos os estudos mostram que quando administramos escetamina ou cetamina com uma terapia associada, prolongam-se os efeitos positivos. Isto está demonstrado em pessoas com depressão, ansiedade e com problemas de abuso de substâncias, que é o que eu investigo. Especialmente na toxicodependência, a droga é um catalisador para a terapia. A droga sozinha alivia os sintomas, mas os efeitos perdem-se em cerca de sete dias. Quando combinada com psicoterapia, vimos no nosso estudo efeitos que duram até seis meses depois de apenas três doses. Não associar os dois, penso que é uma oportunidade perdida.

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