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Isabel sofre de agorafobia e fez psicoterapia assistida por ketamina para «alcançar mais liberdade»

Houve alturas em que até para estar em casa sozinha Isabel sentia «um pânico horrível». Sofre de agorafobia desde muito nova e a pandemia, com as suas ruas vazias, agravou tudo e fez com que regredisse no tratamento. Para «voltar a tentar e para alcançar mais liberdade», optou então pela Psicoterapia Assistida por Ketamina. Sente agora uma genica renovada e, pela primeira vez, afirma que chegou à raiz e entendeu a sua fobia: «Foi mais sentido, foi mais de cá de dentro, foi mais honesto comigo própria.»

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Leia o testemunho completo da Isabel sobre a sua experiência com a Psicoterapia Assistida por Psicadélicos:

Eu tinha feito um grande progresso pré-pandemia, mas depois com a pandemia, e também por trabalho, porque eu ligava muito ao trabalho e queria mais o trabalho em relação a outras coisas, perdi muito do que tinha ganho.

O meu medo é precisamente aquilo que a pandemia evoca, são os espaços vazios, tudo vazio. Ainda consegui enfrentar durante algum tempo, ainda fui conseguindo coisas, mas foi morrendo, também porque não fui a terapia presencial, fiz muito virtual, o que no meu caso não é muito aconselhado. Tenho de sair de casa, de sair da minha zona de conforto, e então estava muito perra.

Eu agora nestes tempos pós-pandemia, desde que voltei à terapia, e antes de mudarmos para este edifício, e de abrir a clínica, eu estava muito perra, tinha muita falta de vontade… não é que não estivesse a ir às consultas, porque estava, mas não via vontade em sofrer um bocado para conseguir alguma coisa, em mudar alguma coisa.

Achava que daqui a bocado vai haver uma guerra, vai haver uma doença, vai voltar tudo ao mesmo, vai voltar a acontecer. E a parte boa da ketamina foi que me deu estaleca para fazer isso, para estar disposta a passar por isso. A querer mesmo voltar a sofrer, porque no meu caso é mesmo uma agonia, é uma angústia quando se enfrenta aquela situação que dá medo. Mas a ketamina meteu-me pré-disposta para voltar a tentar, para alcançar mais liberdade.

O meu diagnóstico é agorafobia, e a agorafobia tem dois tipos. Há o tipo que é sem ninguém, como se fosse uma ágora vazia, que é o meu tipo. E há pessoas que não gostam é de estar em sítios cheios de gente. Eu também não amo, mas não tenho nenhuma fobia com isso.

Para mim, tudo o que são sítios abandonados, sem ninguém, são sítios onde eu posso estar a morrer e ninguém me ajuda, em que vou ficar ali para sempre e não sei o que vai ser feito de mim. É um pânico horrível.

A primeira crise de pânico e a ansiedade da agorafobia

A primeira vez que eu mostrei ter uma crise de pânico, que pode estar relacionada com isto, e de certa maneira estava, não era a mesma coisa, mas estava, foi após uma cirurgia muito complicada que eu fiz de ortopedia. Eu nasci com uma dismetria femoral. Corrigi, e para isso temos de passar um tempo com ferros na perna.

A primeira crise de pânico que tive estava com ferros na perna, achava que podia falecer do nada, tinha batimentos cardíacos muito acelerados. Isto porque temos de fazer a nossa vida com ferros e nem sempre é fácil. Se calhar, em algumas situações, ou não esperaram por mim, ou obrigaram-me a andar mais rápido, ou eu sentia que não conseguia acompanhar a pessoa que supostamente me protegia. E eu comecei, de certa maneira, a encarar isso como uma situação fóbica.

Mas onde posso dizer que comecei mesmo a demonstrar esta fobia, já sem nenhum transtorno físico ou fosse do que fosse, foi quando chegou a altura de ir para a faculdade.

Passaram-se muitos anos desde que eu manifestei isto. Ninguém deu importância. Achámos mesmo, toda a gente achou, que ok, era um medo como outro qualquer, tem de enfrentar, é uma coisa que ela tem de dizer a ela própria: pronto, não vai acontecer nada, vais conseguir. É como uma criança: está tudo bem.

Mas o que é certo é que, com o tempo, as coisas oscilavam. Ora aumentava, ora diminuía, ora cada vez ia aumentando mais, e cheguei a um ponto, tinha uns 25 anos — eu só comecei a terapia com 25 anos, mesmo, mesmo, porque a minha família tinha muito preconceito em pedir ajuda, achava que psicologia não resolvia, pronto, não acreditavam muito nisto. Então só com 25 anos é que eu pedi oficialmente ajuda, a um psicólogo. Antes disso, cheguei a um ponto em que até para estar na minha casa sozinha eu tinha um pânico horrível.

Foi o meu avô que um dia encontrou uma reportagem da minha doutora na revista Saúde. Falava precisamente do meu problema, que era a agorafobia. E ele disse: já se gastou tanto dinheiro em tantas coisas na nossa família, porque é que não se há-de gastar nisto, que é o teu caso. Tu precisas disto como de pão para a boca. E foi assim, bateu de frente com os meus pais, disse a verdade, pôs-me a fazer a consulta, experimentámos, e nunca mais larguei.

A pandemia agravou. A ketamina melhorou

Agora não se vê, mas eu antes da pandemia consegui fazer toda uma evolução e já fazia muita coisa sozinha. Mas com a pandemia, eu lembro-me — moro num prédio — de estar a descer com a cadela, aos sufocos, aos sufocos, lá ia eu pelas escadas para chegar à porta do prédio, e pensava assim: é que nem me atrevo a sair da porta do prédio, isto é mesmo aquilo que eu mais odeio.

A rua completamente vazia, sem ninguém, não está lá nada, se ao menos estivessem lá algumas pessoas… às vezes fazia jogos comigo própria, vamos lá, vamos enfrentar, vais ver que há pessoas na lavandaria e não há problema, vais lá abaixo.

A ketamina foi boa também no sentido em que, é assim, muitas coisas que nos dizem em terapia, a maioria nós percebemos, mas há outras coisas que nós achamos: é mesmo isto? A sério? E foi giro porque, com a ketamina, eu ouvi-me a falar comigo própria.

Eu estou completamente consciente, estou um bocado sonolenta mas sei o que estou a pensar, sei onde estou, ou abro os olhos por baixo da venda e vejo onde estou, perfeitamente, e oiço a minha voz comigo própria, na minha cabeça.

Estou a ouvir-me. Sei perfeitamente que sou eu. Está tudo consciente. É como se fosse eu na minha cabeça a pensar é isto e aquilo. E foi uma forma de eu dizer a mim própria aquilo que era ou não era. Porque é que estás assim? É isto mesmo?

Ela [a psicóloga] já me tinha dito: você faz isto para chamar a atenção. É uma maneira de ter atenção, mesmo que você não veja. Há uma parte de si que não gosta de ser dependente e há parte de si que adora. E é verdade. E, infelizmente ou não, até é verdade, porque é mesmo. Isto é um comportamento de criança. É um comportamento de repor a atenção, de certa maneira. Eu sei que é estranho, mas é verdade, estou a ser muito honesta. Estou a abrir completamente o jogo.

Então, na minha cabeça, uma das visões, uma das coisas que eu vi, porque estamos de olhos fechados e eu vejo muitos padrões de luz, como se estivesse agora a olhar para a lâmpada e a formar luzinhas e imagens… uma das coisas que me vinha à cabeça era: então tu fizeste isto para estar mais próxima da tua mãe, não foi? E eu dizia: sim, sim, foi mesmo para isso, tal e qual. Era uma conversa que estava a ter comigo própria.

Ou seja, no fundo, para mim, no meu caso, é a minha voz interior a falar. A voz que estava aqui a ecoar sou eu a falar comigo própria. Então eu acho que foi uma coisa mais natural, foi uma coisa que saiu mais do meu subconsciente, mais dos neurónios. Não foi alguém que chegou e analisou e disse eu acho isto, isto e isto. Foi mais sentido, foi mais de cá de dentro, foi mais honesto comigo própria.

A psicoterapia assistida por ketamina «dá-me genica»

Eu sinto que tive mais genica. Aquilo que acabou de ver quando chegou [a Isabel a subir as escadas do prédio sozinha], é um sofrimento, mas é um sofrimento que tem de ser. Se não houver esse sofrimento, se não houver essa pré-disposição, o cérebro não se adapta. No meu caso, e eu sei que sou dos poucos casos que está aqui que é assim, é como se a pessoa tivesse de ver para crer, a pessoa tem de estar lá, tem de sentir.

Se eu não te trancar com o teu medo tu não vais evoluir. O teu cérebro faz uma efervescência brutal com aquela coisa e aquilo não te mata. E no meu caso é assim, dá muito trabalho. Eu acredito que com outras doenças também pode dar trabalho, mas tem de haver uma pré-disposição. Eu até posso fazer figura de otária, de estúpida, do que seja, mas eu vou tentar. Não interessa. Porque aquilo que eu estou a ganhar também não é melhor. Tem de haver essa pré-disposição. No meu caso é muito assim, é mesmo isso.

Quando eu tomava a dose de ketamina, eu saio de lá um bocadinho sonolenta, mas volto a ficar logo bem-disposta. Quero fazer. À medida que a dose vai aumentando, a pessoa fica um bocadinho mais lenta, depende se o sonho for bom ou não for bom. Se não for bom a pessoa fica muito, ai, estou muito lenta, eu quero falar e sinto-me toda parada, mas não há uma má recuperação.

Não há, tanto que lhe posso dizer que quando eu acabei as minhas sessões, mesmo que eu estivesse lenta ou tivesse uma visão que não gostei tanto, e estava tão chateada com aquilo que vi ou aquilo que pensava, ou estou farta disto, estou farta de ver furinhos ou de ver o que quer que seja, havia sempre uma grande vontade na minha cabeça de dizer assim: olha, eu gostava de fazer aquilo, eu gostava de fazer não sei o quê. Há uma vontade qualquer, uma genica, a mim espoleta-me genica.

Quando uma pessoa vem de um mundo sem pensar muito em medos, e está a mil dentro da cabeça, a pessoa quer é fazer coisas. Então é um bocado assim: quero fazer coisas. Num momento fica mais parada, mas a seguir volta ao normal e na cabeça quer é começar a fazer coisinhas, a pessoa quer começar a desprender-se, porque já não está tão preocupada com medos ou preocupada com isto.

As ketaminas não fazem tudo. O resto temos de fazer nós. Pelo menos no meu caso, tem de doer, não há outra forma. Mas a pessoa tem de entender que o sofrimento leva a algum lado, isto é tudo para alguma coisa, não é: dói agora e amanhã já não dói. É mesmo assim, é como tirar uma cera.

«Foi a primeira vez que vi a razão para ter caído nesta fobia»

Eu estou aqui, se precisares abro-te a porta, não tenhas medo, estou deste lado, tocas à porta e eu abro. Eu testei e vi, é verdade, ela está mesmo do outro lado, não fugiu, ela está aqui mal me oiça bater. E ela [a psicóloga] dizia: vais descer as escadas da entrada até à porta de saída. E eu não descia, ia até meio. Isto foi no dia da última toma de ketamina, em que ela me fez pela primeira vez isto.

No dia a seguir, era uma consulta para falar sobre a ketamina, que era suposto, e ela disse: vamos fazer. E eu desci as escadas todas até ao final, que era uma coisa que eu não conseguia fazer. E não foi uma coisa sequer pensada. Fiz, aconteceu. Talvez porque já estava mais calma e já foi uma mensagem com…

A quarta sessão correu muito bem, foi uma sessão muito calma. E, como é que eu hei-de dizer, e acho que isso ajudou, mas não foi algo que eu pensasse. Eu nunca pensei: vou fazer. Nem pensei nesse assunto. Eu sentia que tinha feito e gostei de ter tentado fazer. E gostei tanto que no dia a seguir fiz mais.

É completamente um sonho de cores, um grande entrançado de cores luminosas a fazer uma bela tapeçaria, e eu a falar comigo própria e a dizer: fizeste isto tudo para estar mais próxima da tua mãe, não foi? Sim, é verdade. E aí foi a primeira vez que eu senti que houve uma razão para eu ter caído nesta fobia. Foi a primeira vez que eu percebi ou interiorizei aquilo que ela [a psicóloga] já me tinha dito.

Porque eu nunca interiorizava, e pensava assim: mas eu sou racional, por um lado sim, mas por outro eu sou uma pessoa que até sou despachada, não tenho paciência para chorar, sou uma pessoa muito pão pão, queijo queijo. Tirando a minha fobia. E não conseguia sentir tanto. Ali eu senti mais, porque foi mesmo uma coisa que me veio à cabeça, que estava na minha cabeça a ser falada e vista, de uma forma mais colorida, mas sim.

 

[A The Clinic of Change agradece à Isabel pela coragem na partilha e pela generosidade de, com a sua história, ajudar outras pessoas a procurar ajuda.]

 

 

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