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Time, 29 de Novembro de 2023
Autor: Noah Whiteman

Os seres humanos confiam num estranho conjunto de químicos naturais para avivar o que comemos e bebemos, para suportar a dor e para nos ajudar a mudar de perspectiva. Usamos a cafeína extraída do café, do chá e da erva mate para estimular o corpo e a mente, a capsaicina dos grãos de pimenta vermelha, ou os isotiocianatos do rábano, ou o wasabi para temperar a nossa comida, e a codeína ou a morfina para suportar a dor provocada por lesões ou cirurgias.

Contudo, ultimamente algumas pessoas estão também a recorrer a psicadélicos como a psilocibina para alterar a sua percepção. Na verdade, os investigadores estão já a testar a possibilidade de usar estas substâncias no tratamento de problemas de saúde mental.

Com isso em mente, a grande questão é o porquê de plantas, cogumelos e micróbios, e até alguns animais, produzirem químicos com propriedades salva-vidas, melhora-vidas e até termina-vidas. O meu trabalho enquanto biólogo evolucionista que estuda a ancestral batalha entre plantas e herbívoros é precisamente responder a esta pergunta. Ao fazê-lo, podemos recolher informação essencial sobre os potenciais riscos e benefícios de usar para nosso proveito os químicos que foram forjados pela evolução.

Olhemos para cinco exemplos. A toxina botulínica, produzida por algumas bactérias para paralisar os seus hospedeiros, é, simultaneamente, uma das toxinas naturais mais mortais conhecidas pela ciência e o princípio activo do fármaco anti-rugas Botox. O químico usado pelo bolor de pão para repelir bactérias inimigas é também o fármaco-maravilha penicilina. Um poderoso insecticida produzido por plantas de parentesco afastado é também o fármaco psicoactivo mais usado no mundo — a cafeína. Um veneno produzido pelos teixos para evitar o crescimento de lagartas é também o poderoso fármaco anticancro conhecido como Taxol, que impede o crescimento de células que se dividem rapidamente, como as contidas por tumores malignos. O veneno que o caracol marinho usa para paralisar os peixes também contém o poderoso analgésico ziconotida.

Parece que estes químicos foram concebidos à nossa medida. Contudo, nenhum ser humano estava presente no momento em que estes organismos desenvolveram a capacidade de os produzir. Se analisarmos bem, percebe-se que, na maioria dos casos, nos limitámos a interceptar as armas químicas utilizadas naquilo que Charles Darwin definiu como «a guerra da natureza». De forma simplificada, muitos dos químicos barrocos de que usamos e abusamos surgiram no planeta para aumentar as probabilidades de sobrevivência dos organismos que os produzem ou que os absorvem através da alimentação ou dos seus microbiomas. […]

Os psicadélicos de origem natural são agora o assunto do momento. Os psicadélicos são químicos que se ligam e activam os receptores de serotonina do nosso cérebro. […]

Tal como os psicadélicos naturais evoluíram de forma independente em muitos organismos, também evoluiu a sua utilização por povos indígenas no mundo todo, que os usam em medicina, práticas espirituais e mais. Apesar de serem um grande tabu nas sociedades ocidentais modernas, os químicos psicadélicos estão a emergir como forma de terapia para uma vasta gama de problemas de saúde mental que são resistentes ao tratamento, desde a adicção do álcool ao stress pós-traumático. […]

Ao avaliar o seu potencial medicinal, sou apologista de se deixar os psicadélicos actuar para analisar a sua segurança e eficácia, submetendo-os a ensaios clínicos de diferente ordem, o padrão de ouro da medicina. Acredito que os psicadélicos têm um enorme potencial terapêutico para uma vasta gama de problemas de saúde mental. Talvez pudessem até ter ajudado o meu pai. […]

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