Carolina: «Foi o hospital onde estava internada que me recomendou Psicoterapia Assistida por Psicadélicos.»
Como conta Carolina, «para a anorexia nada é suficiente». Depois de viver muitos anos obcecada com alimentação, essa maneira de estar no mundo transbordou para outras áreas e viver era tão difícil que «lamentava ter de acordar no dia a seguir». O corpo cedeu também, e Carolina só sobreviveu por acaso. Depois de ser internada, teve autorização do hospital para fazer Psicoterapia Assistida por Psicadélicos na The Clinic of Change. «Eu já sabia que não tinha de viver de acordo com as regras da minha doença, mas com este tratamento SENTI. A aprendizagem foi emocional, experiencial, visceral e não apenas cognitiva. Foi essa a diferença.»
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Leia o testemunho completo de Carolina sobre a sua experiência com o programa de Psicoterapia Assistida por Psicadélicos na The Clinic of Change:
Estudei psicologia em Lisboa, na Universidade Clássica de Psicologia. Actualmente, trabalho numa clínica de saúde mental. Os meus pais divorciaram-se quando eu tinha um ano e o contacto com o meu pai foi muito distante até há muito pouco tempo, em que nos temos aproximado. Tenho um irmão do casamento da minha mãe com outra pessoa, de quem sou muito próxima, no entanto, fui vítima de maus tratos infligidos pelo pai dele. Agora a minha mãe está com outra pessoa, de quem gosto bastante e que me ajuda muito. Vivo sozinha e sou solteira.
Desde muito nova que tenho graves problemas em adormecer e manter o sono. Também desde cedo tomo medicação para dormir, que foi aumentando. Pelos 11, 12 anos, fiquei muito obcecada com a alimentação saudável. Lentamente, comecei a restringir muito a alimentação e a emagrecer muito. A partir daí, o controlo da alimentação passou a ser o centro da minha vida, paralelamente às notas.
Tinha compulsões alimentares, e existia um padrão auto-imposto de restrição, cada vez mais severo, com compulsões subsequentes. Desde então que nunca tive uma alimentação normal, e existiam muitos rituais, obsessões e comportamentos bizarros com a comida. Raramente comia refeições e muito menos as partilhava, arranjava forma de evitar e era difícil para a minha família chegar a mim, especialmente quando passei a viver em Lisboa sem eles.
Fiz psicoterapia e psiquiatria em adolescente, mas ficava pela superfície e nunca me abri realmente ou expus os lados meus de que tinha mais vergonha. Não creio que o divórcio dos meus pais tenha tido impacto na doença, mas os maus-tratos do meu padrasto podem ter influenciado. Ele humilhava-me inclusivamente em relação ao peso (demasiado magra, demasiado gorda, etc.). De resto, não tenho noção de outros eventos que possam ter relação com o início da doença. É algo muito genético e temperamental, pelo que dizem e pelo que me apercebo.
Era sempre como que «assombrada» pela anorexia
Existiram fases muito diferentes dos comportamentos específicos da doença e da forma como se manifestavam (muitas vezes, a obsessão com a alimentação era «trocada» por outras obsessões, como os estudos ou a relação amorosa em que estava). Houve fases melhores, mas era sempre como que «assombrada» pela doença. Traços obsessivos foram surgindo e, depois, foram-se solidificando.
A ansiedade e hiper-vigilância eram constantes. Vivia centrada em controlar tudo e «optimizar» tudo (nomeadamente, claro, a alimentação). Isso só me fazia sentir miserável. Pensamentos intrusivos e um sofrimento muito profundo permeavam todas as minhas vivências e conquistas, mas anestesiavam a dor e a dúvida e o medo.
Desde a idade mencionada que me considerava alguém extremamente infeliz, ansiosa, e uma verdadeira impostora. Sentia-me diferente de toda a gente e altamente inferior e defeituosa, apesar da minha excelência académica e sucesso junto aos pares. Não gostava de quem era e muito menos de viver.
A culpa, a vergonha e o medo de enlouquecer perseguiam-me e não iam embora. A minha vida social era gerida a pinças e, em primeiro lugar, sempre, estavam as notas e o controlo da alimentação. O prazer e a tranquilidade eram conceitos que eu não compreendia. Não cuidava minimamente de mim, e pouco respeitava os meus limites, físicos, emocionais ou psicológicos. Nunca me ia deitar satisfeita por muito que fizesse, poderia sempre ter feito mais.
Para a anorexia, nada é suficiente. E é uma forma de pensar, uma forma de estar no mundo e de funcionar, que às tantas já fica totalmente independente da alimentação.
Mesmo em fases em que o peso estava mais estável e a alimentação menos descontrolada, a forma de pensar, a rigidez, a auto-flagelação e autocrítica constante continuavam lá. Simplesmente não gostava de mim. Mesmo nada. Tive alturas em que o peso descia muito e tive graves problemas de saúde. Apenas tive quatro menstruações no decurso de toda a minha vida.
Não morri por sorte, por várias vezes
A anorexia isolou-me totalmente e privou-me de tudo o que valorizava no mundo e em mim. A vida era uma constante correria a fugir da própria sombra. Senti-me muito sozinha, e muito louca. Tinha um medo constante cuja causa já nem conseguia nomear e tinha desistido de ter uma vida ou um trabalho. Não sei como mantive as notas, a sanidade mental, e, sobretudo, os amigos.
Vivia todos os dias de tarefa em tarefa, ritual em ritual, para conseguir chegar ao fim do dia, porque já acordava exausta. Viver era tão difícil que lamentava ter de acordar no dia a seguir.
Com o tempo, o corpo deixou de aguentar. Por duas vezes fui para o hospital com convulsões, e sobrevivi por mero acaso, porque a minha família já me encontrou estendida inconsciente no chão, já em coma, isto pela subnutrição e porque bebia água obsessivamente, o que provocava hiponatremia muito grave. Não morri por sorte, por várias vezes. Estranhamente, isso não me assustava, nem me fazia ter vontade de mudar o meu comportamento. Dizerem-me que eu corria risco de vida não me impactava, porque a anorexia convencia-me de que toda a gente estava a exagerar.
Há dois anos, fui internada em psiquiatria porque a anorexia me deixou em risco de vida e eu negava convictamente, vivia em segredo todos os meus medos e rituais, presa a obrigações bizarras que desenvolvi (por exemplo, ter de tomar cinco banhos por dia, etc.).
No internamento, voltei a estar acompanhada, abri-me mais, mas algo faltava. Foi tudo parte de um processo. O acompanhamento no hospital fez-me compreender e aceitar que os meus comportamentos, de que me envergonhava, faziam parte de uma doença mental que não era escolha ou culpa minha. Também me alertaram para a minha responsabilidade em poder modificar a minha situação.
Por outro lado, obrigaram-me a ser transparente com os outros, porque fiquei sem alternativa. Foi um «tratamento de choque» a nível da consciência, da minha parte e das pessoas à minha volta, relativamente à minha doença. Isso foi meio caminho andado, mas não estava a ser suficiente para me sentir realmente livre.
Foi o hospital onde estava internada que me autorizou a fazer Psicoterapia Assistida por Psicadélicos
Fiquei três meses internada, e, após a alta, comecei a recair. Só quando confrontada com a possibilidade de ser internada novamente é que «acordei» e percebi que, na verdade, não tinha de viver assim.
Na Psicoterapia Assistida por Psicadélicos assumi uma postura de transparência total e deixei a vergonha de lado. Propus-me a conhecer-me e aceitar-me, bem como a utilizar isso a favor da minha vontade genuína e assoberbante de ajudar o outro. Queria muito ser funcional, ser mais livre, e ter um propósito de vida.
Foi um tiro no escuro porque, por muito que mudasse, alguma coisa dentro de mim continuava a fazer-me sentir constantemente numa prisão. Quis descobrir quem sou e viver de acordo com os meus valores. Descobrir-me, e ter uma vida. A minha vida. No percurso dessa descoberta, quando me foi dada autorização pelo hospital (em que era acompanhada), procurei a The Clinic of Change. Não tinha nada a perder, portanto não tinha medos sem ser de «e se nem isso me curar».
Numa das sessões, rasguei o meu vestido e o meu colar, e gritei «estou farta de me sentir presa». Para mim, esse episódio alertou-me para o aprisionamento em que me sentia, e a vontade de ser livre foi maior do que o medo de falhar.
Depois de sentirmos o que sentimos na sessão, os pensamentos podem surgir todos novamente, mas temos aquela experiência na memória, dentro de nós, de que a realidade é criada por nós. A partir daí, uma vez que sabemos, aprendemos uma nova forma de estar e ser, que já dificilmente «desaprendemos». Isso faz-nos perceber que podemos escolher sempre relembrar a experiência da ketamina [ou cetamina] enquanto ensinamento, quando estamos a voltar a antigos padrões.
Já não me sinto numa bolha que não me permitia fazer parte do mundo. Sinto-me conectada e viva.
Senti que não precisava de viver de acordo com as regras da minha doença. Senti que não era a minha doença. Senti que os meus problemas não eram reais, e que somos criadores da nossa própria realidade pessoal. Que temos muito mais escolha do que assumimos, de modo automático, no dia-a-dia. Podemos mudar e tornar-nos alguém diferente.
Eu já sabia tudo isso, mas a diferença foi que com este tratamento SENTI. A aprendizagem foi emocional, foi experiencial, foi visceral, e não apenas cognitiva. E foi essa a diferença.
Agora consigo trabalhar. Tenho amigos. Já não vivo com a minha mãe nem dependente dela. Cresci. Já não me sinto numa bolha que não me permitia fazer parte do mundo ou de um todo. Sinto-me conectada e viva. As minhas relações são saudáveis e os meus valores são mais claros. Gosto do meu dia-a-dia! A minha rotina tornou-se mais «normal» e equilibrada. Tenho momentos de verdadeira paz.
Quanto aos pensamentos «doentes», quando surgem, consigo vê-los apenas como pensamentos. Já não «sou» os meus pensamentos. Sinto um ponto de escolha muito concreto quando tomo decisões, e sinto-me dona de mim. Há uma tranquilidade «de fundo» que se instalou em mim, e que se tem consolidado, que se tem sobreposto à hiper-vigilância e ao medo constantes que, desde que me lembro, estavam cá.
Parece que deixei de ver a vida a preto e branco. Sinto-me muito grata pela minha vida, pelo que tenho, e pelo que ainda é possível. Não foi apenas a ketamina a actuar magicamente. Foi preciso muita coragem e dedicação para trabalhar, para integrar tudo o que tinha percebido, e para isso as sessões de integração e psicoterapia ajudaram mesmo muito.
Hoje, considero-me feliz, e no caminho de me sentir realizada. A doença continua lá, mas já não comanda a minha vida. É como uma entidade à parte, que sinto o poder de ouvir ou não. Nunca pensei que tal fosse possível.
[A The Clinic of Change agradece à Carolina pela coragem na partilha e pela generosidade de, com a sua história, ajudar outras pessoas a procurar ajuda.]
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