David Nutt: «Negar o acesso aos psicadélicos é como negar o acesso à vacina da Covid-19.»
The Standard, 7 de Fevereiro de 2024
Texto: Alexandra Jones
[Fotografias: Daniel Hambury/Stella Pictures Ltd]
Neuropsicofarmacologista e ex-responsável governamental na área dos medicamentos, o Professor David Nutt tornou-se um dos principais cientistas na defesa do direito à medicina psicadélica para a saúde mental. Nesta entrevista, ele explica que o tempo para legalizar é agora.
No final da sessão fotográfica, o repórter de imagem perguntou a David Nutt – respeitado neuropsicofarmacologista e antigo conselheiro governamental na área dos medicamentos – se podia gravar uma mensagem de voz. «É para o meu irmão, que é um grande admirador do seu trabalho.» O Professor David Nutt faz-lhe a vontade, com um sorriso na cara. Desde que foi afastado do cargo estatal, em 2009, por afirmar que o LSD e o ecstasy são menos perigosos do que o álcool, Nutt tornou-se uma figura de culto entre os jovens e os inadaptados – mais recentemente, o estatuto reforçou-se com os seus estudos de tratamentos de saúde mental assistidos por psicadélicos.
«Fui afastado pelo Governo por dizer a verdade sobre estes fármacos», afirma o médico de 72 anos. «Claro que toda a gente se passou, porque ninguém podia dizer uma coisa dessas. O que nos ensinaram foi a dizer que o LSD é uma droga muito perigosa e blá, blá, blá – tretas!» Ainda assim, não custou um bocado? «Sim, claro – mas enfim. Agora já estou mais habituado ao escrutínio público.»
«É muito entusiasmante», afirma. «Quero que as pessoas estejam a par do meu trabalho com a medicina psicadélica porque não há outra forma de as coisas mudarem – ainda há um longo caminho para percorrer. Nos últimos 15 anos, já avançámos com muita investigação inovadora, já transformámos o universo dos tratamentos clínicos na saúde mental, mas só há duas instituições na Grã-Bretanha a fazer este trabalho.»
David Nutt já trabalha nesta área desde o início dos anos 2000 e o seu estudo pioneiro sobre os efeitos do LSD no cérebro, de 2016, abriu o caminho para a nova era do renascimento psicadélico. Apesar de as manchetes dos jornais simplificarem demasiado esta recente área de investigação, é seguro afirmar que os psicadélicos – quando acompanhados por psicoterapia – são uma alternativa valiosa no tratamento para disfunções como a depressão, o stress pós-traumático ou a adicção.
