The Economist, 15 de Janeiro de 2024
[Ilustração: Alberto Miranda]
Os psicadélicos podem ajudá-los a superar o trauma, e possivelmente também a lutar.
Ihor Kholodilo não devia ter sobrevivido. O psicólogo militar estava numa operação de evacuação de camaradas em 2023 quando o jipe onde seguia foi atingido por um tanque russo. Ficou praticamente incapaz de comunicar. As operações salvaram-lhe o coração e a visão. Mas os médicos não conseguiram corrigir a gaguez e a fala entaramelada. Experimentou todo o tipo de terapias radicais, mas nada resultou. Até que conheceu Vladislav Matrenitsky, um pioneiro da psicoterapia assistida por psicadélicos, que lhe fez uma pergunta inesperada: estaria disponível para experimentar ketamina [cetamina]?
O senhor Kholodilo não estava com muitas expectativas, mas os resultados foram extraordinários. A gaguez desapareceu com apenas uma sessão. Ao fim de cinco tinha voltado praticamente ao normal. Deixou de ter pesadelos e de sentir medo no dia-a-dia. A terapia com ketamina não foi fácil, diz, mas permitiu-lhe resolver o trauma que provocava os sintomas: «Voltei a ter uma vida… sentia-me leve, abençoado.»
Este fármaco é autorizado na Ucrânia como tratamento para a doença mental desde 2017. Mas agora os soldados com traumas de guerra estão a ser tratados com ketamina para «aliviar a pressão emocional».