Aconteceu na passada quarta-feira, 20 de setembro, a 1.ª Conferência Científica organizada pela The Clinic of Change (em parceria com o ISBE – Instituto de Saúde Baseado na Evidência e o ISPA – Instituto Universitário), com o tema “Ketamine Psychotherapy: Clinical Evidence and Brain Mechanisms” e com David Nutt como keynote speaker. A conferência contou com mais de cem pessoas na assistência numa manhã muito participada no auditório da PLMJ Advogados.
Depois das boas-vindas proferidas por Victor Amorim Rodrigues, diretor clínico da The Clinic of Change, e das palavras introdutórias de António Vaz Carneiro, moderador da sessão, Médico, Presidente do ISBE, Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e Diretor da Cochrane Portugal, quem abriu as hostilidades foi David Nutt, o keynote speaker, com uma palestra de cerca de 50 minutos sobre as suas investigações dedicadas aos avanços da medicina psicadélica e sobre a evidência científica da psicoterapia assistida por ketamina.
A partir de um vasto estudo em que participou, o Professor de Neuropsicofarmacologia do Imperial College de Londres e Chief Research Advisor da Awakn Life Sciences apresentou a depressão unipolar como o maior problema de saúde mental da Europa e identificou este tipo de terapêutica como “o futuro da psiquiatria”. Além de todos os dados e estudos partilhados ao longo da palestra, David Nutt deixou um desabafo pessoal muito expressivo: “Deixei de trabalhar no serviço nacional de saúde britânico porque não havia lugar para a mudança e eu queria poder dar aos meus pacientes a melhor hipótese de recuperação.”
Assista aqui à apresentação completa de David Nutt e à totalidade da conferência.
Após a apresentação de David Nutt, juntou-se no palco o painel de debate de especialistas convidados: Albino Oliveira-Maia, Ana Sofia Carvalho, António J. Santos e Jorge Gonçalves. Cada um foi convidado a proferir uma intervenção livre de cerca de dez minutos sobre o tema, com apresentação e moderação de António Vaz Carneiro.
Na primeira exposição, Albino Oliveira-Maia, da Fundação Champalimaud e Professor de Psiquiatria e Neurociências na Nova Medical School, começou por confessar “o entusiasmo que esta área traz também a mim”, sem deixar de destacar a responsabilidade médica de um “pensamento sobre a segurança e os riscos de uma intervenção deste tipo”.
Para evitar os perigos das “utilizações selvagens”, como algumas que já se verificam nos EUA, e para não “pôr em causa novas soluções de grande valor”, como é o caso desta terapêutica, é importante haver uma regulamentação para lá daquela garantida individualmente por “uma estrutura maior como é a Awakn”. Em suma: “É evidente que uma das vantagens importantes da ketamina e da esketamina é a sua enorme segurança farmacológica, na sua forma clássica no domínio do medicamento. Mas é também verdade que a utilização destes medicamentos no domínio psiquiátrico cria desafios.”
Assista aqui à intervenção completa de Albino Oliveira-Maia.
Partindo também dos “perigos da hiperbolização”, Ana Sofia Carvalho, Professora de Ética e Bioética do ICBAS e Ethics Workpackage Leader do REPO4EU, quis sublinhar que uma das mensagens mais fortes a sair da conferência deve ser a de que, no que diz respeito à psicoterapia assistida por ketamina, fala-se de “um uso médico para situações específicas sem outras respostas clínicas” por se tratarem de casos em que “o potencial benefício compensa os eventuais riscos”.
Ana Sofia Carvalho destacou ainda o quanto este debate nos mostra que “a dualidade corpo/mente não faz sentido” e como um fármaco terá sempre “efeito diminuto” se não andar a par com um “acompanhamento de proximidade” médico. “A evidência científica e a tecnologia são muito importantes”, mas é essencial que um médico tenha “competências morais e valores adequados”: “Daqui a dez anos, sem isso, estou certa de que a Inteligência Artificial será muito melhor médica do que ele.”
Assista aqui à intervenção completa de Ana Sofia Carvalho.
O psicólogo presente no painel de debate, papel que o próprio António J. Santos destacou, começou a sua intervenção por expressar um agradecimento a David Nutt pelo seu trabalho: “Sou um grande admirador e estou muito entusiasmado com as novas pontes que se estão a construir e com as novas possibilidades que estamos a oferecer aos nossos pacientes. A sua contribuição é admirável e estou certo de que será uma inspiração para muitas gerações vindouras.”
A partir do seu trabalho na área da psicopatologia do desenvolvimento, o Professor de Psicologia do ISPA e membro do William James Center for Research apresentou o projeto que tem estado a desenvolver com crianças e jovens com severas inibições sociais, manifestando a sua felicidade “porque todo este investimento vai também poder contribuir para melhorar as oportunidades e vida potencial destes jovens e dos seus familiares”.
Assista aqui à intervenção completa de António J. Santos.
Trazendo a “perspetiva da farmacologia mecanicista”, Jorge Gonçalves, Professor de Farmacologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, apresentou, em três pontos, a forma como se analisa o uso de um fármaco. No caso específico da ketamina, falou, entre outras coisas, da sua capacidade de modulação na neurogénese: “Aparece numa fase mais tardia, o que significa que é um fármaco que está mais próximo da foz e tem condições para atuar mais rapidamente.”
Identificando “uma janela de atividade em que é possível maximizar efeitos”, Jorge Gonçalves concluiu que, tendo em conta os três pontos de análise habituais, “a ketamina tem obviamente o seu lugar, tanto em termos de eficácia como de segurança”.
Assista aqui à intervenção completa de Jorge Gonçalves.
A encerrar o painel de debate, no seu papel de moderador, e antes de passar para as perguntas da assistência, que foram variadas e sempre acolhidas com interesse pelos elementos da mesa, António Vaz Carneiro fez uma síntese conclusiva das impressões que recolheu ao longo da sessão.
Destacou a ketamina como um “exemplo notável de reposicionamento de um fármaco, bem sucedido, que é uma indicação off-label, justificada, mas que um dia destes será, esperemos, on-label”, sem deixar de alertar para os obstáculos e problemas, que devem ser encarados com prova dos benefícios mas também dos riscos. Olhando para a evidência científica e para os ensaios clínicos, sublinhou, antes de fechar o painel, que “já nos dão hoje em dia uma estrutura muito forte, muito boa, para ficarmos muito descansados, nomeadamente no aspeto da segurança”.
Assista aqui à conclusão do painel de debate por António Vaz Carneiro.
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